Martha San Juan França
Todo mundo sempre imaginou que lá longe, entre os trilhões de estrelas doUniverso, deveria
haver outros planetas. Mas ninguém conseguia encontrá-los. Finalmente, em outubro de 1995, dois astrônomos suíços, Michel Mayor e Didier Queloz, localizaram um planeta gigante na órbita da estrela 51 da Constelação de Pégaso, a cerca de 40 anos-luz da Terra.
Três meses depois, foi a vez dos americanos: o astrônomo Geoffrey Marcy, da Universidade de San Francisco, e seu colega Paul Butler, da Universidade de Berkeley, anunciavam a descoberta de outros dois planetas– um deles em volta da estrela 70 da Constelação de Virgem e o outro perto da 47 de Ursa Maior. “Estamos apenas começando a arranhar a superfície”, afirmou Butler à revista Astronomy. “Tenho certeza de que vamos descobrir muita coisa que nem imaginávamos existir.”
Três meses depois, foi a vez dos americanos: o astrônomo Geoffrey Marcy, da Universidade de San Francisco, e seu colega Paul Butler, da Universidade de Berkeley, anunciavam a descoberta de outros dois planetas– um deles em volta da estrela 70 da Constelação de Virgem e o outro perto da 47 de Ursa Maior. “Estamos apenas começando a arranhar a superfície”, afirmou Butler à revista Astronomy. “Tenho certeza de que vamos descobrir muita coisa que nem imaginávamos existir.”
O otimismo de Butler se justifica. Outras descobertas vieram em seguida, em várias partes do mundo. Em outubro do ano passado, William Cochran, da Universidade do Texas, anunciou ter descoberto um planeta girando em órbita excêntrica em volta de 16 de Cisne B. George Gatewwod, da Universidade de Pittsburgh, encontrou um, talvez dois planetas, orbitando Lalande 21185. A busca está empolgando a comunidade astronômica. Gente antes preocupada com outros aspectos do Cosmo agora volta seus telescópios para estrelas passíveis de abrigar famílias semelhantes ao nosso Sistema Solar. Já foram achados pelo menos doze planetas, aí incluídas quatro novas descobertas da dupla Marcy-Butler, nas constelações de Tau de Bootis, Rho de Câncer e Upsilon de Andromedae.
Os novos achados nem sempre se encaixam no figurino dos manuais deAstronomia. Há entre eles planetas enormes e gasosos, como Júpiter, vivendo tão perto das estrelas que até as rochas acabam se derretendo, sob temperaturas de 1000 graus ou mais. Cientistas estão quebrando a cabeça para descobrir como eles se formaram. A vida é impossível nesses planetas heterodoxos. Mas há outros, como o da estrela 47 da Ursa Maior e o da 70 de Virgem, com chances de abrigar seres vivos. “Nos próximos anos, esperamos descobrir sistemas com vários planetas, alguns deles tão pequenos quanto a Terra”, acredita Butler.
“Gigantes quentes”, um enigma
Como um planeta enorme, 280 vezes maior do que a Terra e seis vezes mais próximo de sua estrela do que Mercúrio está do Sol, consegue se formar e continuar existindo? Essa questão não pára de intrigar os astrônomos desde que, há um ano e meio, foi descoberto um planeta rondando a estrela 51 da Constelação de Pégaso. Peg-51, para os íntimos. Os astrônomos imaginavam, até então, que um corpo celeste com esses traços estaria fadado a desaparecer, sugado pela imensa força gravitacional da estrela vizinha. “Trata-se de um bicho raro no zoológico planetário”, comentou o astrônomo Geoffrey Marcy, um dos autores da descoberta. O espanto dos cientistas se tornou ainda maior quando foi achado, pouco depois, outro planeta com as mesmas características, ao redor de uma estrela na Constelação de Rho de Câncer. Atualmente, os bichos raros já somam quatro, e os astrônomos calculam que nada menos do que 5% de todos os planetas da nossa Galáxia sejam desse tipo.
Para explicar os “Gigantes quentes”, ou “Júpiter Quentes”, como dizem os cientistas, surgiu uma nova teoria. Alguns astrônomos especulam que esses planetas não se formaram nas imediações da estrela, mas foram empurrados para lá numa colisão com outro planeta.
Planeta ou anã marrom?
A descoberta de planetas nos confins do Universo colocou os astrônomos perante um dilema teórico: como definir, exatamente, o que é um planeta? Exemplo: por que o planeta gigante encontrado na galáxia de HD 114762 é catalogado como planeta e não como uma nuvem de gás ou uma anã marrom? As anãs marrons são estrelas muito pequenas para desencadear uma reação de fusão nuclear e, dessa forma, emitir luz, como é esperado das estrelas convencionais. O problema é que, na hora de definir quem é quem, tamanho não é documento. Ou seja, um planeta graúdo pode ser maior do que uma anã marrom que seja realmente nanica.
Já se pensou em diferenciar os dois tipos de corpo celeste pela sua composição química. Impossível. Ambos são formados pelos mesmos elementos, hidrogênio e hélio. A única diferença entre uma anã marrom e um planeta está no seu miolo: os planetas são formados de rochas e gelo, enquanto a anã marrom é composta apenas por gases. Mas é impossível, com os equipamentos disponíveis, descobrir do que são feitos os planetas extra-solares. Enquanto não se descobre um jeito de viajar até lá, o único critério que os cientistas estão conseguindo aplicar baseia-se na excentricidade de cada um dos objetos – uma estrela anã teria uma órbita mais elíptica do que a de um planeta. Se for assim, o HD 114762 pode girar tranqüilo. Sua órbita continua sendo a de um planeta.
Em busca da “zona habitável”
Tudo bem, já se sabe que o nosso Sol não é a única estrela a possuir planetas ao seu redor. Mas não é exatamente este o motivo principal que leva a humanidade a apontar telescópios para o céu. Os planetas só constituem um foco de interesse na medida em que apenas eles podem abrigar seres vivos. Não há chance de se encontar organismos vivos em cometas, nem em estrelas, nem na maioria dos planetas encontrados. O que estamos procurando são planetas na chamada “zona habitável” – isto é, com condições semelhantes às existentes na Terra. Não podem estar muito longe de sua respectiva estrela, o que os tornaria gelados como Saturno ou Netuno, nem demasiado perto, sob pena de virar verdadeiras fornalhas, como Mercúrio ou Vênus.
Objetos do tipo “Júpiter quente” são, como a expressão indica, tão pouco hospitaleiros quanto ele próprio. O máximo que se pode dizer a favor dos planetas recém-descobertos é que dois deles – um ao redor de 47 da Ursa Maior e o outro na Constelação 70 de Virgem – podem possuir água. “Para ser honesto”, admite Marcy, “ne-nhum desses planetas têm condições de abrigar lagos ou oceanos, como na Terra”. Sem água, nada feito. Não há seres vivos, pelo menos como a conhecemos.
Marcy acredita que o único obstáculo que impede a descoberta de mais planetas na “zona habitável” é a tecnologia. “Não tenho dúvida de que existem planetas com água líquida e moléculas orgânicas”, acrescenta. A dupla Butler e Marcy escolheu mais de 400 estrelas parecidas com o Sol para investigar com a ajuda do poderoso telescópio Keck, no Havaí. No Texas, dois outros astrônomos, William Cochran e Artie Hatzes, vasculham 150 estrelas no aglomerado de Hyades. Significativamente, a última reforma no Telescópio Espacial Hubble serviu para trocar os velhos instrumentos por dois sensores novinhos em folha, destinados a perscrutar no infravermelho objetos pequenos e difíceis de enxergar na luz visível.
Um dos recursos usados pelos cientistas é o Efeito Doppler, que aponta variações na cor dos astros de acordo com seus movimentos. Eles ficam mais azulados quando estão se aproximado da Terra e mais avermelhados quando se distanciam.
Um vagalume ao lado de uma explosão
A maior dificuldade na procura de planetas na chamada “zona habitável” é que o brilho da estrela costuma ofuscar qualquer coisa nas proximidades. Marcy compara o desafio ao de “ver um vagalume perto de uma explosão nuclear”. É uma tarefa impossível na luz normal, mas há outros meios. Os cientistas apostam nos radares infravermelhos, capazes de identificar corpos com temperatura muito baixa.
Outra técnica consiste em trabalhar ao mesmo tempo com dois telescópios voltados para a mesma direção. É a chamada interferometria, o método escolhido pelo Projeto Origins, da Nasa, o mais importante dentre todos os projetos de pesquisa espacial. Vários pequenos telescópios operando em conjunto serão lançados nos próximos sete anos para esquadrinhar o céu em busca de novos planetas. É um empreendimento caro, mas o diretor da Nasa, Daniel Goldin, acredita que vale a pena. “Nenhum esforço é grande demais para provar a existência de vida em outros planetas”, comenta o cientista.
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