Por Rodrigo Silva
A razão deste breve ensaio sobre o artigo do pastor André Reis se deveu aos muitos e-mails que recebi quando de sua divulgação, especialmente depois que o mesmo ganhou destaque no blog Advir .
Não se trata de uma resenha acadêmica, são apenas algumas ponderações que intentam mostrar que há outra maneira de entender o assunto.Alguns esclarecimentos, no entanto, se fazem necessários. Primeiramente em relação ao pastor André Reis.
Quero dizer que respeito muito sua capacidade acadêmica e afirmo que o mesmo foi um dos melhores alunos do SALT – UNASP. Além disso, nossos encontros nos EUA sempre foram pautados pela cordialidade, mesmo quando num breve e-mail eu afirmei que discordava de parte de sua interpretação a respeito de Órion.
Quero dizer que respeito muito sua capacidade acadêmica e afirmo que o mesmo foi um dos melhores alunos do SALT – UNASP. Além disso, nossos encontros nos EUA sempre foram pautados pela cordialidade, mesmo quando num breve e-mail eu afirmei que discordava de parte de sua interpretação a respeito de Órion.
Não se trata, portanto, de uma reação ortodoxa contra qualquer tipo de “heresia”. De jeito nenhum. Não estamos aqui tratando de nenhuma coluna fundamental do adventismo, mas de um aspecto de nossa herança religiosa que pode acomodar diferentes interpretações. Não é meu interesse prolongar um extenso debate sobre o assunto ou levar os leitores a “ficarem do meu lado”. Meu intento é mostrar que, em que pese meu respeito pelo articulista, há outra maneira de interpretar a questão. Como dizia Agostinho: “No essencial: unidade, no não essencial: diversidade, mas em tudo: caridade”.
E por falar em caridade/respeito, embora não se trate de uma reação ao livro do pesquisador Yuri Mendes (Os mistérios de Órion), uma vez que o mesmo será nominalmente citado aqui, cabe também uma palavra a seu respeito. Quando seu livro foi publicado, nós trocamos alguns poucos e-mails aonde eu expus as razões porque discordava de pontos centrais de sua publicação e do temor que eu nutria de que a esse livro, uma vez publicado pela CPB, desse às suas posições ar de oficialidade eclesiástica uma vez que a editora oficial da igreja publicou suas pesquisas. Contudo, tanto o Yuri Mendes quanto o André Reis foram tremendamente corteses para comigo e creio que esta nota de seu caráter merece ser trazida a público. Também foram éticos e jamais fizeram qualquer divulgação panfletária a meu respeito.
Pontos de acordo
Eis os pontos de acordo entre mim, e os autores Reis e Mendes: concordo que deva haver um rigor acadêmico maior no momento de palestrantes e pregadores apresentarem certas declarações, especialmente envolvendo a área de ciência e religião. Também concordo que sempre houve no seio do adventismo a tendência para o surgimento de certas lendas urbanas que produziram tradições incomprovadas (para não dizer “mentirosas”) e que muito atrapalham na pregação da Verdade Presente. Costumo dizer a meus alunos que não devemos “fabricar evidências”. Ademais, pior do que um oponente negando minha fé, é um companheiro de igreja defendendo o que creio, mas com argumentos estapafúrdios.
Eu mesmo já fui vítima de certas lendas urbanas ao ser usado como autor de frases que não disse ou, se disse, foram num contexto bem diferente do divulgado. Em relação a Órion, por exemplo, alguém tomou uma antiga palestra (de mais de 10 anos), aonde apresento os sons de Saturno capitados pela Voyager (na verdade são ondas plásmicas de vento solar que se assemelham a uma orquestra afinando seus instrumentos). Então ligaram essa palestra, não sei de que forma, a outra palestra que fiz sobre Órion, chegando a afirmar que eu havia declarado haverem sons de trombetas celestiais saindo do túnel de Órion. Uma versão mais sofisticada disse que a Veja publicou isso e que eu até citei esse tema numa das entrevistas do Jô Soares. Absurdo completo.
Definitivamente, é bom que se diga: Os cientistas não estão medindo nenhum buraco se abrindo em Órion e que a cada ano se torna maior que no ano anterior. Isso é mito. Também não há sons de trombeta ecoando de lá, muito menos formas angelicais aparecendo em sua região.
Pontos de desacordo
Meu desacordo com o prof. André (e em parte também com a obra de Yuri Mendes) reside no método de sua pesquisa e em sua interpretação quanto à influência de Bates sobre Ellen White, o que toca no delicado assunto da inspiração profética. Antes, porém, é importante ressaltar que nenhum de nós é um astrônomo profissional. Somos teólogos. O mais capacitado dentre nós seria, sem dúvida, o Yuri Mendes, mas ele mesmo se apresenta como astrônomo amador. No que diz respeito a mim (e creio poder incluir o prof. André nisso) falta-me treinamento adequado em astronomia para se posicionar quanto a algumas questões de Física que envolvem essa temática e, sendo assim, não se deve esperar dessa resenha, um posicionamento quanto a questões técnicas de astronomia.
Contudo, posso perfeitamente colocar a posição de astrônomos e físicos de prestígio que procurei ler ao longo dos anos. E este é o principal problema, a meu ver, do método de pesquisa e coleta de dados que encontro nos escritos de André Reis e Yuri Mendes: há uma quase absoluta inexistência de material indexado sobre astronomia. No que diz respeito à história do Adventismo as fontes do prof. Reis estão bem, mas quanto à astronomia, afirmações são feitas sem nenhuma comprovação bibliográfica que permita ao leitor, ao menos, checar as fontes de sua conclusão. Nem o livro do Yuri Mendes encontrei uma bibliografia que se espera de uma pesquisa deste nível. Ainda se tratando de um livro não acadêmico, aquelas citações de revistas populares, de enciclopédias escolares e até de um ufólogo místico, com total abscência de artigos científicos ou material indexado empobrecem, a meu ver, o conteúdo e a argumentação. E quando vamos ao material indexado descobrimos que as coisas não são bem assim. Não nego que os autores fizeram exaustivas pesquisas para escrever seu material, mas senti uma imprecisão de ambos na hora de apresentar certas informações ao leitor comum.
Veja por exemplo: Yuri Mendes afirma veementemente em seu livro (pag. 86) que a Nasa jamais divulgou ou aceitou que houvesse um buraco negro em Órion, que isso é uma especulação infundada dita apenas na igreja. Será? Embora seja verdade que a Nasa não é a única a centralizar a informação astronômica (nisto Yuri Mendes está corretíssimo), seu site oficial (www.nasa.gov [1]) linka artigos de vários observatórios e universidades ao redor do mundo, de modo que é perfeitamente possível encontrar ali uma fotografia ou texto científico, por exemplo, creditado não à própria Nasa, mas ao pessoal do National Optical Astronomy Observatory[2] . Portanto, não seria de todo errado oferecer a Nasa como fonte de algumas declarações, embora, como eu disse, seja verdadeira a advertência do autor de que se atribui à Nasa declarações que nem ela, nem nenhum observatório espacial jamais fizeram.
Não obstante, contrariando o que a afirmação de Yuri Mendes, físicos respeitados já trabalharam com a hipótese de Órion conter um buraco negro. Isto não é algo “inventado” por pregadores adventistas. Ainda que tal idéia não esteja hoje tanto em vigor (afinal o saber científico é cíclico e “provisório”) ela já foi cientificamente defendida por especialistas como Robert E. Wilson do departamento de Astronomia do Sul da Flórida[3] , Douglas S. Hall do Dyer Observatory (Vanderbilt University) e Loring M. Garrison Jr. do Kitt Peak National Observatory (Tucson, Arizona) [4]. E. A. Antokhina, N. Z. Ismailov e A. M. Cherepashchuk, do P. K. Shternberg State Astronomical Institute de Moscow, também afirmaram em um artigo conjunto a hipótese de vários astrônomos de que a BM Orionis era uma ótima candidata a ser um buraco negro[5] . Veja, eu mesmo não tenho credenciais acadêmicas para afirmar que exista ou não um buraco negro em Órion, isso fugiria à minha especialidade. Fiz referência a esses autores apenas para mostrar que nem tudo é “invenção de pregadores leitos adventistas”. Não estou afirmando que existe ou não existe buraco negro em Órion, estou apenas dizendo que essa tese já foi defendida por gente de peso. Meu ponto é o seguinte: se o buraco negro em Órion é uma bobagem, é uma bobagem que já foi defendida por físicos de prestígio.
André Reis também segue uma argumentação semelhante quanto afirma que o Hubble comprovou “o que outros já haviam suspeitado: não existe nenhum ‘espaço aberto’ na constelação de Órion.” Bem, em primeiro lugar devemos lembrar que “espaço” no “Espaço” não é o mesmo que nos diz o senso comum. Do mesmo modo que Buraco Negro, não é “buraco” nem é “negro” [6]. Ellen White, embora não fosse cientista, estava usando uma linguagem descritiva limitada, como aliás até mesmo o cientista é obrigado a usar. Ninguém escapa totalmente do senso comum na hora de descrever o mundo em redor. Eu mesmo não conheço nenhum físico que ao invés de falar “do raiar ou do por do sol” prefere dizer: “Amanhã eu lhe encontro a tantos graus do movimento de rotação terrestre em torno de seu eixo”. Ninguém fala assim. Ora, se a ciência pode até hoje chamar de átomo o que não é átomo, por que Ellen White que era leiga não podia falar de “espaço aberto em Órion” se essa era a aparência do que ela via? E será que não há realmente nenhum espaço ali?
Curiosamente uma grande quantidade de artigos acadêmicos, talvez usando uma descrição de senso comum semelhante àquela utilizada por Ellen White, também fala claramente de “cavity” (cavidade) e “open cativy” (cavidade aberta) em Órion [7]. Entre os que usam essa expressão encontra-se Massino Robberto[8] , respeitado membro da European Space Agency (ESA) e do Space Telescope Science Institute em Baltimore, EUA. Aliás, o próprio site oficial do telescópio Hubble[9] também oferece a mesma descrição e até mesmo o site de notícias doHerschel Space Observatory que divulga oficialmente as fotos tiradas pelo Satélite Herschel publicou o seguinte título sobre Órion: “NGC1999 – A hole in space” (Um buraco no espaço) [10] . A NGC1999, apenas para constar, é uma nebulosa na constelação de Órion! Veja o modo como o artigo argumenta em uma de suas partes: “The astronomers think that the hole must have been opened when the narrow jets of gas from some of the young stars in the region punctured the sheet of dust and gas that forms NGC 1999” .[11] Veja se os astrônomos falam de buraco em Órion que foi aberto, ainda que se diga que estariam usando uma linguagem de senso comum, porque deveríamos ter tanto repúdio à expressão “espaço aberto” ou afirmar que está provado que não existe nada que se assemelhe a isso. Veja, novamente, quero esclarecer: não se trata de afirmar que existe um buraco ali em Órion como um rasgo feito num lençol. Mas posso sim dizer que existe, segundo a descrição dos Físicos, existe ali algo que aparenta ser um espaço/buraco. Ainda que figuradamente, a descrição não é irracional.
A influência de Bates
A suposta influência de Bates sobre Ellen White para mim é hipotética e não assertiva. Em que pesem as argumentações da ausência de “Órion” no livro O Grande Conflito ou o folheto de Bates escrito antes da visão, devo dizer que para mim esses não são elementos conclusivos para afirmar a dependência de Ellen White em relação ao capitão Bates.
Em primeiro lugar, note-se que existem descontinuidades importantes entre os dois. Bates fala o tempo todo de “gap” e não de “open space”. Aliás percebi que em nenhum lugar ele fala de “space” como algo específico de Órion. As ocorrências desse vocábulo em seu artigo são sempre dentro de outro contexto. Em Órion, mais especificamente na espada do caçador, há, segundo Bates, uma “gap” (uma brecha). Sua tese, portanto, é de que haveria uma brecha, um rasgo, entre o céu e a terra. Esse rasgo como se fosse um zíper se abriu várias vezes no passado para permitir a comunicação dos homens com os seres celestiais. Parte de sua argumentação residia no fato de Deus ter colocado Querubins com espadas de fogo no caminho do Éden. Ora, se o Éden foi arrebatado para o céu e pode ser (segundo Bates) conectado ao Santuário e à Nova Jerusalém. É de se esperar que ele mesmo venha à terra pela mesma brecha por onde entrou. Ora, se Deus colocou anjos com espadas no caminho do paraíso e hoje temos no céu um caçador (Órion) com uma espada na mão. Aquele, sem dúvida é o caminho da Nova Jerusalém ou o Éden prestes a regressar.
Mas veja que nem de perto encontramos tal tipo de argumentação em Ellen White. Esse não era, aliás, o modo como ela apresentava as “evidências bíblicas” para uma tese, muito menos o jeito de sustentar suas visões. Reconheço que muitas vezes o profeta reflete o seu tempo. O prof. André está certo quanto a isso. Mas devemos ter critérios claros para saber quando o profeta está refletindo o meio em que viveu e quando está descrevendo aquilo que Deus lhe revelou, a despeito do meio. Do contrário, podemos incorrer no erro de relativizar ou humanizar em demasia toda a sua mensagem. Muitas declarações de Ellen White feitas como frutos de sua visão vinham justamente depois que os pioneiros apresentavam suas teorias doutrinárias conforme entendiam peloestudo da Bíblia. Assim foi com o sábado, com o Santuário, com a abstinência do porco, com o sentido de Daniel 8:14 etc. Suas visões corrigiam ou endossavam o que eles tinham dito antes. O endosso ou a correção poderiam ser apenas parciais e não necessariamente exaustivos (ainda havia espaço para nova luz sobre o assunto). Esse me parece ser o contexto de Órion, primeiramente em Bates, e depois nas visões de Ellen White. O conceito de Alden Thompson (citado por Reis) quanto à inspiração profética não me parece muito convincente, mas isso é matéria para outra discussão. Veja a crítica feita a esse autor por Richard Davidson, professor de Antigo Testamento da Andrews University[12] .
Quando o profeta Isaías fala, por exemplo, “dos quatro cantos da Terra”, está, de fato ecoando a descrição de uma época, mas note que esses “ecos culturais” são geralmente anotações paralelas ou digressões periféricas não essenciais à mensagem. Isaías não usa esse tipo de informação cultural dizendo “o senhor me mostrou que há quatro cantos na terra”. Jesus também chamou o grão de mostarda a menor de todas as sementes quando na verdade não é! Igualmente Ellen White descreveu uma visão que teve da aparência do diabo e anotou que ele tinha uma testa larga indicando “grande inteligência”. Ora isso é um conceito de frenologia, hoje totalmente ultrapassado. Tamanho e formato de testa não têm nada a ver com capacidade intelectiva ou com potencialidade de QI. Mas veja que, diferente dos exemplos dados, a declaração de Órion é muito forte e central. Não se trata de informação periférica. O senhor lhe mostrou o abalo e lhe explicou o significado. Na visão sobre os planetas foi Bates e outros que afirmaram que ela estava em Júpiter, ela mesma não disse isso. Aqui não: ela mesma declara que estava vendo Órion!
Num e-mail que trocamos (o prof. André e eu) admiti que o silêncio de Ellen White em anos seguintes acerca desse assunto é, de certa forma desconcertante. Mas isso não é motivo para se concluir que ela cometera um erro. Se ela errou, aonde estaria sua retratação? Note que em várias ocasiões Ellen White mostrou que havia cometido um erro e não titubeou em admitir suas imprecisões num ou noutro ponto. Também não hesitou em apresentar suas mudanças de conceito. Isso não se dá aqui. O que temos é uma declaração única seguida de nenhuma correção. Se tomarmos seu silêncio como indício de retratação ou discordância, então teremos de aceitar a argumentação dos antitrinitários de que o fato dela nunca ter mencionado a palavra Trindade seus escritos seria um indício de que ela mesma não creu nesta doutrina.
Curiosamente, Yuri Mendes parece chegar a uma conclusão diferente da de André Reis: para ele não se trata de descrição equivocada influenciada por Bates. Ela realmente viu Órion, mas em seu entender o que Ellen White provavelmente quis dizer é que “a volta de Jesus será na direção da constelação de Órion” (pág. 90). Mais uma vez é bom dizer que nenhum dos dois autores intentam desmerecer o dom profético de Ellen White. Até aonde eu saiba são escritores adventistas compromissados com as doutrinas de nossa igreja. O que tenho em seu material são tentativas de compreender o que Ellen White quis dizer e não afirmações de dúvidas quanto ao seu ofício profético. Neste ponto nós três estamos igualmente de acordo.
Por fim uma nota sobre a questão do Mistério. Concordo com Reis que ficar apelando para um suposto mistério em Órion como argumentação última a favor de um significado profético da região é sem sentido. Mas gostaria de fazer duas observações, a situação de “não mistério” não anula o fato de que ali possa ser um lugar/evento especial. Veja, muitos sinais do fim que cumpriram profecias bíblicas já há muito deixaram de ser um mistério para os cientistas. Explicações claras já foram dadas para o escurecimento do Sol em 1780 e a queda das estrelas de 1833. Nenhum desses fenômenos é hoje um “mistério” para a ciência. E mais: eles não são, de modo nenhum, eventos inéditos. Todo ano, lá pelos meses de outubro ou novembro, o mesmo evento de 1833 se repete e nova chuva de estrelas acontece. É a terra passando pelos restos de um cometa chamado Leonids, veja que a história já registrou outras curiosas chuvas de estrelas (na verdade meteoros cadentes) em 1866, 1899 e 1933. Nem todas é claro podem ser vistas a olho nu. O significado profético, portanto, não está na inexplicabilidade nem na unicidade do evento. Um médico forense pode arriscar a causa mortis de Jesus, aliás, o Filho de Deus não foi o único crucificado pelos romanos. Contudo havia algo maior naquele evento aparentemente comum que o diferenciava dos demais, ele tinha um significado dentro da história da redenção que escapava ao olhar do historiador. Órion pode ser mais uma entre muitas constelações e ao mesmo tempo ser única!
Mas note que ainda existe um espaço para o assombro. Os cientistas não estão tão esclarecidos sobre Órion como supõem Reis e Mendes. O Dr. Malin ao comentar uma foto da Nebulosa de Órion tirada em 15 de janeiro de 1999 declarou: “Esta imagem de telescópio revela uma intrigante nebulosidade que parece consistir de nuvens de poeira iluminadas não por luz estelar mas pela luz da própria Nebulosa de Órion”[13] .
Esse mesmo especialista define ainda como “intrigante nebulosidade” o que acontece naquela região espacial e revela-nos que ainda há muitos mistérios sobre aquele lugar. Mistérios não encontrados em outras partes do universo. C. R. O’Dell, um dos maiores especialistas sobre o assunto, chegou a definir Órion como um “Elefante para Cegos” – uma paródia da parábola de vários cegos que apalpavam diferentes partes de um elefante e, por isso, afirmavam coisas contraditórias sobre ele. Seu artigo indexado foi apresentado numa conferência sobre astronomia realizada na Cidade do México em 2001.[14]
As questões sobre a luz que é emitida de um astro e o tempo que demora para chegar até a terra já foram discutidas pelo físico Russell Humphreys no livro Starlight and Time. Não devemos nos prender a isso como motivo para afirmar que seria impossível Jesus vir com a Nova Jerusalém pelo espaço aberto em Órion ou que eles teriam de ter uma velocidade muito superior à velocidade da Luz etc. Ora, um cidadão português do século 17 acharia impossível uma viagem do Rio de Janeiro para Lisboa durando apenas algumas horas. Se é um erro limitar as potencialidades do futuro com base nas limitações do presente, muito mais seria limitar a onipotência de Deus devido às limitações humanas. Mas disso o prof. André demonstra-se consciente em seu artigo, já o livro de Mendes nem tanto.
Observações finais sobre o Texto de Ellen White
Nuvens negras e densas subiam e chocavam-se entre si. A atmosfera abriu-se e recuou; pudemos então olhar através do espaço aberto em Órion, donde vinha a voz de Deus. A santa cidade descerá por aquele espaço aberto. Vi que as potestades da Terra estão sendo abaladas agora, e os acontecimentos ocorrem em ordem. Guerras e rumores de guerra, espada, fome e pestilência devem primeiramente abalar as potestades da Terra, e então a voz de Deus abalará o Sol, a Lua e as estrelas, e também a Terra. Vi que a agitação das potências na Europa não é, como alguns ensinam, o abalo das potestades do céu, mas sim o abalo das nações iradas. Vida e Ensinos, 111.
Vamos ver trecho por trecho:
“Nuvens negras e densas subiam e chocavam-se entre si.” Essa informação, a princípio, realmente me pareceu estranha. Embora eu não entenda nada de mecânica de fluídos, achei confusa a informação de que nuvens (que são formadas de gases) pudessem se chocar entre si. Elas não são corpos sólidos, são fluídos. Contudo, é essa a descrição que muitos fazem de Órion. Veja à guisa de ilustração a descrição feita por A.S.B. Schultz: “The surface of the nebula is not smooth, but composed of a variety of wisps, bubbles, and ridges, whose brightness and spectra are dependent mainly on their distance from the Trapezium (Wen & O’Dell 1995). The nebula is also the site of at least two systems of Herbig-Haro (HH) objects. HH objects are by-products of star formation: emission nebulae formed when an outflow from a young star impacts surrounding material, shocking both outflowing and ambient material. The southern system (HH 202 – 204) probably has its source(s) in the vicinity of the Trapezium, while the northern system includes the fast, optically-emitting “fingers”, detailed below (O’Dell 1997). ”[15] Veja também uma descrição de foto de Órion feita pelo Hubble: “Many of the filamentary structures visible in this image are actuallyshock waves – fronts where fast moving material encounters slow moving gas. The Orion Nebula spans about 40light years and is located about 1500 light years away in the same spiral arm of our Galaxy as the Sun.”[16]
“A atmosfera abriu-se e recuou”. Yuri Mendes e André Reis entendem que esta seria a atmosfera terrestre. Talvez seja. Mas é possível aventar outra interpretação, a de que seria a atmosfera da própria região de Órion. A palavra atmosfera lembra, no vocabulário de nós leigos em Física, apenas uma fina camada que envolve planetas ou no máximo luas. Pelos padrões leigos da época de Ellen White era de se perguntar: como poderia haver “atmosfera” no espaço aberto de Órion? Hoje, contudo, sabemos que se pode falar de atmosfera galáctica e que esta tão ou mais complexa que a de um planeta[17] . Hoje é sabido que Nebulosa de Órion possui hidrogênio, oxigênio e enxofre.[18]
“pudemos então olhar através do espaço aberto em Órion, donde vinha a voz de Deus. A santa cidade descerá por aquele espaço aberto” – Ellen White não parece endossar a idéia de Bates de que a espada de Órion seria uma brecha que se abre e fecha para a passagem de anjos como um zíper de uma bolsa. Também não parece advogar um sinal da brevidade da volta de Cristo. Note que ela jamais usa o futuro ao falar da abertura. Ela não diz, “um espaço se abrirá no Órion [por ocasião da vinda de nosso Senhor]”. Sua declaração é simples: “pudemos olhar para o espaço aberto” … “a santa cidade descerá [futuro] por aquele espaço aberto”. Não há nada no texto que indique uma abertura futura por ocasião dos eventos ali mencionados, muito menos um abre e fecha constante do passado. A Nova Jerusalém descerá (no futuro) pelo espaço já aberto (hoje).
Como se dará isso? De que forma ocorrerá? Essas são perguntas que talvez nunca responderemos com os critérios dessa vida. Talvez um dia no céu… Embora, a meu ver, terei coisas mais interessantes na eternidade do que ficar desvendando as especulações aqui da terra. Bem essa é a minha interpretação, o meu entendimento. Minhas considerações não estão completas, é claro, apesar das oito páginas! Tenho outras motivações para pensar assim, que não foram apresentadas neste texto. Mas acredito ter dito o suficiente. Eu ainda creio que Órion é o lugar! E dali virá meu Senhor! Mas quer entremos por Órion ou por outra “porta qualquer”, o importante é que André, Yuri e eu possamos estar juntos na multidão de remidos. E naquele dia, pouco importará quem de nós estava ou não com a razão.
Rodrigo P. Silva
1. Existe ainda o hattp://apod.nasa.gov. Esse site costumava linkar informações de pesquisadores de outras agências espaciais e universidades fora da Nasa.
2. Cf. http://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/ap070527.html que linka a páginahttp://www.noao.edu/ entre outras.
3. Robert E. Wilson, “The Case for a Black Hole in BM Orionis” in Astrophysics and Space Science 19 (1972), 165-171. BM Orionis é uma das estrelas do Trapezio localizado na grande Nebulosa de Òrion. Veja esta definição em http://www.hposoft.com/EAur09/BMOrionis.html.
4. Douglas S. Hall e Loring M. Garrison Jr. “BM Orionis, The Eclipsing Binary in the Trapezium” Astronomical Society of Pacific, July 22 (1969), 771 – 792. Provided by Nasa Astrophysics Data System disponível emhttp://www.hposoft.com/EAur09/EAUR%20pdfs/BM%20OrionisHall.pdf.
5. Antokhina, E. A., Ismailov, N. Z., & Cherepashchuk, A. M; “Parameters of the Eclipsing Binary System Bm-Orionis a Member of the Trapezium – THETA-1-ORIONIS” SOVIET ASTR.LETT.(TR:PISMA) V.15, NO. 5/SEP, P. 362, 1989 disponível em http://adsabs.harvard.edu/full/1989SvAL…15..362A.
7. Cf. http://hubblesite.org. Ele diz: “The Orion Nebula is a picture book of star formation, from the massive, young stars that are shaping the nebula to the pillars of dense gas that may be the homes of budding stars. The bright central region is the home of the four heftiest stars in the nebula. The stars are called the Trapezium because they are arranged in a trapezoid pattern. Ultraviolet light unleashed by these stars is carving a cavity in the nebula and disrupting the growth of hundreds of smaller stars.” (http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/2006/01/image/a) Veja também: “The Orion Nebula is a perfect laboratory to study how stars are born because it is 1500 light-years away, a relatively short distance within our 100 000 light-year wide galaxy. Astronomers have a clear view into this crowded stellar maternity ward because massive stars in the centre of the nebula have blown out most of the dust and gas in which they formed, carving a cavity in the dark cloud.” (http://hubble.esa.int/science-e/www/object/index.cfm?fobjectid=38598). ““Packed into the center of this region are bright lights of the Trapezium stars, the four heftiest stars in the Orion Nebula. Ultraviolet light unleashed by these stars is carving a cavity in the nebula and disrupting the growth of hundreds of smaller stars. The dark speck near the bottom, right of the image is a silhouette of an edge-on disk encircling a young star. Another whitish-looking disk is visible near the bottom, left, just above the two bright stars. This disk is encased in a bubble of gas and dust.” (http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/2006/01/image/e/)
8. http://www.spacetelescope.org/images/html/heic0601b.html
9. Cf. http://hubblesite.org. Ele diz: “The Orion Nebula is a picture book of star formation, from the massive, young stars that are shaping the nebula to the pillars of dense gas that may be the homes of budding stars. The bright central region is the home of the four heftiest stars in the nebula. The stars are called the Trapezium because they are arranged in a trapezoid pattern. Ultraviolet light unleashed by these stars is carving a cavity in the nebula and disrupting the growth of hundreds of smaller stars.” (http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/2006/01/image/a) Veja também: “The Orion Nebula is a perfect laboratory to study how stars are born because it is 1500 light-years away, a relatively short distance within our 100 000 light-year wide galaxy. Astronomers have a clear view into this crowded stellar maternity ward because massive stars in the centre of the nebula have blown out most of the dust and gas in which they formed, carving a cavity in the dark cloud.” (http://hubble.esa.int/science-e/www/object/index.cfm?fobjectid=38598)
11. Idem.
12. “Revelation/Inspiration in the Old Testament: A Critique of Alden Thompson’s ‘Incarnational’ Model.” In Issues in Revelation and Inspiration. Adventist Theological Society Occasional Papers. Vol. 1. Edited by Frank Holbrook and Leo Van Dolson, 105-135. Berrien Springs , Mich. : Adventist Theological Society Publications, 1992.
13. O texto completo em ingles seria estes “This telescopic image reveals an intriguing nebulosity which seems to consist of dust clouds illuminated not by starlight but by the light of the Orion Nebula itself. In non-telescopic views, the bright group of stars near the top appear as the northernmost star in Orion’s sword. They are seen here illuminating the nearby dust clouds. Yet the yellowish streamers of dust across the middle reflect the light of the Orion Nebula, which lies just off the bottom edge of the photo”. Fonte:http://apod.gsfc.nasa.gov/apod/ap990115.html. O comentário é em co-autoria com os professores Robert Nemiroff(MTU) e Jerry Bonnell (USRA). O astrônomo amador Andrew James, reconhecendo que a luz está na própria nebulosa tenta uma explicação para o fenômeno. Ele diz: “We know it as the same nebulosity illuminated by stars and making the individual parts luminescent. In reality, this nebula is so bright because of the molecules and atoms contained within the nebula. The excitation of this matter is by many nearby hot stars that are radiating strong UV radiation and causing the fluorescent glow. The main portion of M42 is possibly illuminated by the star known as Becklin’s object, which is unseen due to absorption of light by the bulk of the nebula.” Disponível emhttp://homepage.mac.com/andjames/Page204.htm.
14. C. R. O’Dell, “The Orion Nebula: An Elephant for the Blind”, RevMexAA (serie de conferências), 10 (2001),1-8.
15. The Secret Inner Life of the Orion Nebula Eletronic Publication of Astronomical Society of Australia, volume 18 no. 1 (http://www.atnf.csiro.au/pasa/18_1/schultz/paper/node3.html).
16. (http://apod.nasa.gov/apod/ap040713.html)
17. Ronald Reynold “When Stars Collide” in Scientific American – Janeiro de 2002
18. http://apod.nasa.gov/apod/ap040713.htmlhttp://setimodia.wordpress.com/2010/12/17/pr-rodrigo-silva-sobre-orion/
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