terça-feira, 8 de março de 2011

BATE PAPO COM RODRIGO SILVA SOBRE ÓRION

 POR: ANDRÉ REIS
Meu amigo o Dr. Rodrigo Silva publicou hoje no Advir um artigo que propõe uma intepretação diferente da que eu propus no meu artigo "Órion e os Eventos Finais". Na verdade, o artigo procura confirmar a interpretação tradicional adventista sobre o papel de Órion nos eventos finais.


Abaixo meu comentário sobre o texto do Dr. Rodrigo Silva. 

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Olá Amigos, 

Primeiramente gostaria de reafirmar meu apreço pela pessoa do Pr. Rodrigo; nos conhecemos desde os tempos do Unasp e temos ótimo relacionamento e reitero aqui o mesmo desejo de que o diálogo seja positivo e construtivo, como tem sido por e-mail. Agradeço as palavras lisonjeiras sobre minha pessoa, a admiração é mútua. Não tenho nenhuma intenção de causar celeuma, minha curiosidade pelo conhecimento suplanta o ensejo de "ganhar adeptos". 

Também me sinto honrado de ter meu artigo "Órion e os Eventos Finais" analisado por um acadêmico respeitado como o Pr. Rodrigo. Não é sempre que, como escritor, desfruto de leituras criteriosas de meus textos. Acima de tudo, foi dele que ouvi pela primeira vez a frase da pena de Agostinho: "No essencial: unidade, no não essencial: diversidade, mas em tudo: caridade”. Posso dizer que ele tem vivido esse preceito com seus colegas intelectuais. 

Repito aqui o que expressei ao meu amigo Pr. Rodrigo: "O mais importante do debate talvez não será em termos de conteúdo, mas sim COMO nos portaremos no diálogo." 

Alguns têm a noção equivocada de que todos os adventistas precisam ver as coisas de maneira idêntica e que se houver idéias divergentes, de certa forma a igreja está desunida, apostatada ou tem doutrinas idéias confusas. A esses eu gostaria de citar Ellen White quando disse: " O fato de não haver controvérsias ou agitações entre o povo de Deus, não deveria ser olhado como prova conclusiva de que eles estão mantendo com firmeza a sã doutrina Há razão para temer que não estejam discernindo claramente entre a verdade e o erro. Quando não surgem novas questões em resultado de análise das Escrituras, quando não aparecem divergências de opinião que instiguem os homens a examinar a Bíblia por si mesmos, para se certificarem de que possuem a verdade, haverá muitos agora, como antigamente, que se apegarão às tradições, cultuando nem sabem o quê. E há muitos na igreja que contam por certo que compreendem aquilo em que crêem, mas que até surgir uma discussão, ignoram sua fraqueza."(Obreiro Ev. 298). 

Abaixo vão alguns pontos sobre as observações do Pr. Rodrigo. As mesmas foram repassadas a ele através de nossa contínua e positiva interação por email: 

1. O livro de Yuri Mendes. Embora o Rodrigo tenha incluído em seu texto observações sobre o livro "Mistérios de Órion" (CPB 2004), gostaria de ressaltar que meu texto difere em abordagem e conclusões do livro de Mendes. A única citação ao livro no meu artigo é ao capítulo que lista as verdadeiras "lendas urbanas" sobre Órion (capítulo 6 do livro). Para tanto, Yuri Mendes foi citado no meu texto como historiador e não como astrônomo amador. 

2. O método de pesquisa. O Pr. Rodrigo comenta que no meu texto " há uma quase absoluta inexistência de material indexado sobre astronomia." Gostaria de ressaltar dois pontos: a) o artigo foi escrito tendo como alvo o público adventista leigo e para isso foi escrito de maneira concisa sem infindas notas de rodapé; b) apesar disso, o artigo contém várias referências que lidam com astronomia, a primeira é a página do Hubble no site da NASA que analisa todos os aspectos de Órion e que pode ser visto na referência http://hubblesite.org/gallery/tours/tour-orion/ citada no meu texto p. 1. Esse site também lista artigos sobre Órion. A segunda referência é do livro Agnes Clarke, A Popular History of Astronomy During the 19th Century, p. 22. Ainda outros artigos listados no meu texto abordam astronomia como a série artigos dos cientistas Adventistas Martz e Sprengel publicados na Revista Adventista de 1976 (veja nota de rodapé n. 21). 

É também prática nos círculos acadêmicos não prover notas de rodapé para conhecimento considerado "universal", como por exemplo, a velocidade da luz, o qué um ano-luz, quantos metros tem um kilômetro etc. Para esses dados uma mera menção é suficiente. 

Por outro lado, vejo que o meu amigo Rodrigo utilizou algumas fontes no seu artigo do período anterior ao telescópio Hubble (1972, 1969, 1989) o que causa dificuldades, já que a maior parte do nosso conhecimento sobre o que ocorre de fato em Órion provem das imagens do Hubble lançado em 1990. 

3. A cavidade de Órion. Rodrigo Silva ressalta o fato de que certos artigos usam linguagem semelhante à linguagem de José Bates e Ellen White ao descrever a "cavidade" ou o "o buraco" de Órion (veja notas de rodapé 7-10). Ele argumenta que possa haver um paralelo entre o que Ellen White "viu" ocorrendo em Órion, um "espaço aberto" e o que os astrônomos vêem hoje. 

Outro exemplo é o "buraco negro" que Silva parece entender como tendo implicações para a questão. Meu texto não tratou de um suposto buraco negro em Órion, portanto não vou tratar dele exaustivamente aqui. Só vou citar dois pontos: a) a meu ver, é irrelevante se há ou não um buraco negro em Órion, já que um buraco negro é, por definição "invisível", e a visão de Órion trata de coisas que são "visíveis" por ocasião da vinda de Cristo; b) não há consenso entre astrônomos quanto à existência ou não de buracos negros no universo, diferentemente da existência de nebulosas ou galáxias.
 

Portanto, cai por terra um suposto paralelo entre a linguagem de Bates e Ellen White e os astrônomos, já que a intenção de Bates foi provar que Órion tinha um buraco ou espaço aberto que se abria para as regiões celestes enquanto os astrônomos da NASA estão descrevendo o que ocorre nas nuvens de gás e poeira cósmica em Órion: elas formam uma espécie de "cavidade" ou "caverna" pela formação de estrelas dentro da nebulosa. As fotos de Órion demonstram exatamente isso. Embora usem linguagem semelhante, a intenção de Bates diverge violentamente da dos astrônomos. Pelo menos Rodrigo Silva parece estar cônscio dessa diferença fundamental.
 

4. A dependência de Bates. Concordo com Rodrigo Silva que não podemos afirmar com 100% de certeza de que Ellen White seguiu Bates ao mencionar Órion. Meu artigo não fez tal afirmação. Eu disse que "tudo indica", ou seja, quando consideramos as evidências, creio que elas são fortíssimas na direção de uma influência de Bates que na época estava seguro pelas suas observações astronômicas de que Órion era a porta do céu. 

Silva ressalta que Ellen White muitas vezes somente confirmava o que outros já haviam descoberto na Bíblia, como o sábado, o Santuário etc., e acredita que possa ser o mesmo caso de Órion: Bates descobriu e Ellen White confirmou. 

Ele está correto no que tange às doutrinas bíblicas. Porém, não é o caso de Órion, já que não podemos provar pela Bíblia que Órion é a porta do céu e isso não é uma doutrina bíblica. O problema em aceitar que Órion é "sem dúvida a porta do céu" como afirmou Bates é que teríamos que concluir que Bates recebeu uma revelação "especial" sobre Órion, já que ele concluiu ANTES de Ellen White que a Nova Jerusalém viria por Órion e por isso, deveria ser também considerado de certa forma um profeta adventista. Essa "revelação" não provêm do estudo da Bíblia, ela teria que ter sido uma revelação especial para Bates, em visão ou sonho. Não é o caso, as conclusões de Bates provêm de suas impressões sobre Órion usando um telescópio bem limitado da época. 

Silva vê problemas em aceitar a influência de Bates porque isso teria implicações sobre "intepretação profética". Note porém que o livro Grande Conflito utiliza vastamente historiadores da sua época em questões periféricas. (Veja Apêndice A, ME vol. 3, 433). Poderíamos dizer que Ellen White foi influenciada por historiadores da época ao citá-los no Grande Conflito? Será que isso diminui sua autoridade profética, como questiona o Pr. Rodrigo? 

Não creio que seja esse o caso. Ellen White se valeu de molduras periféricas como detalhes históricos para relatar mensagens mais profundas. Centenas de correções foram feitas no Grande Conflito de uma edição para a outra sem que a mensagem central fosse perdida. 

5. O profeta e seu contexto. Silva concorda comigo sobre o fato de que os profetas atuam dentro de um contexto. Ele concorda com a definição de detalhes "periféricos" no caso de Isaías mencionar os "quatro cantos da Terra" como um conhecimento equivocado da época e não essencial à mensagem. Ele argumenta também que Isaías não diz "O Senhor me mostrou que há quatro cantos na terra." O mesmo é verdadeiro sobre Ellen White, ela não disse: "O Senhor me mostrou que Órion é a porta do céu." 

Silva porém não articulou por quê Órion seria "essencial" à mensagem. Silva argumenta que Ellen White recebeu uma revelação verbal que o que ela viu em visão foi Órion. Ele conclui, sem base no texto, de que o "Senhor mostrou o abalo e EXPLICOU o que era". Não é o que Ellen White diz, e não temos base para tal afirmação. Raramente Deus EXPLICA visões para o profeta (Veja Daniel e Apocalipse). Ellen White não diz, "O senhor me explicou". O entendimento vinha através de REPETIÇÃO e não epxlicação, veja: "Com freqüência me são dadas representações que a princípio eu não compreendo, mas depois de algum tempo elas se tornam claras pela reiterada apresentação dessas coisas que a princípio eu não entendi, e de certas maneiras que fazem com que o seu significado seja claro e inconfundível. (Carta 329, 1904; ME 3, 56).


Silva não explorou essa possibilidade em seu texto. 


Também creio que a dificuldade se cria por não entendermos que as visões de Ellen White eram como "fotos estáticas" (Veja Mensagens Escolhidas, vol. 3, 447, traduzido incorretamente como "rápidas visões"). Suas visões não eram filmes, eram fotos, como slides. Daí a importância de entender que sua menção de Órion por Ellen White faz parte da INTERPRETAÇÃO da visão e não da visão em si. Ou seja, o Senhor não veio e disse: "A volta será por Órion." Essa diferença deve ser ressaltada, o que eu fiz no artigo. 


Creio que a ausência de Órion na descrição da vinda de Cristo no Grande Conflito é evidência de que o entendimento daquela visão de 1848 se aperfeiçoou com o tempo. Em vez de mencionar Órion, Ellen White apenas diz: " Em meio dos céus agitados, acha-se um espaço claro de glória indescritível, donde vem a voz de Deus como o som de muitas águas, dizendo: "Está feito" ( GC 636).


Sem dúvida a repetição da visão SEM ÓRION no Grande Conflito demonstra um maior entedimento por parte de Ellen White. 

Outra pergunta que surge aqui é: Por quê Silva considera os "quatro cantos de Isaías" como não essenciais à mensagem central, mas Órion é essential? Ele também cita a testa de Lúcifer como refletindo idéias de frenologia da época e conclui que isso reflete o contexto já que tamanho de testa não tem nada a ver com inteligência. Mas não seria essa informação da testa de Lúcifer "forte e central" já que Ellen White está usando isso para descrever sua capacidade intelectual? 


Silva também cita a semente de mostarda como não sendo a menor semente e que Jesus refletiu um conhecimento da época. Mas não seria essa informação da semente também "forte e central" na fala de Jesus? Oras, se Jesus usou uma semente que não era na realidade a menor do mundo, não cairia por terra sua mensagem sobre o tamanho da fé verdadeira? 


Ellen White também afirma que as estrelas refletem a luz do Sol (Ed. 14). Não deveríamos considerar essa informação "forte e central" à mensagem de que as "estrelas" do pensamento secular também refletem a luz de Cristo? 


Jesus mencionou que as "estrelas" cairão do céu. Veja que Jesus não falou de "meteoros" e sim de "estrelas". Ora, estrelas são milhões de vezes maiores que a Terra e não podem "cair nela". Mas não deveríamos considerar essa informação "forte e central" na mensagem de Jesus? 


Note que eu não tenho problemas em aceitar esses detalhes periféricos acima como molduras de verdades mais essenciais. A diferença nas nossas leituras está em seletivamente escolher o que é detalhe periférico e o que é "forte e central". 


Não podemos confundir detalhes periféricos como Órion com o cerne da mensagem: a realidade vinda de Cristo literal. 


6. A correção de erros por Ellen White. Silva questiona por quê então, se Órion não fez parte da revelação especial, Ellen White não corrigiu posteriormente um suposto "equívoco" nas edições do Primeiros Escritos. Silva argumenta que não houve mudança no entendimento de Órion. 


Eu argumentei que a ausência de Órion do Grande Conflito deve servir como correção da interpretação anterior sobre a visão da vinda de Cristo. Meu argumento é baseado no fato de que Ellen White na maioria das vezes não corrigia edições de seus livros que continham discrepâncias, porém retificava conceitos em publicações posteriores de outros livros. Aqui vão alguns exemplos: 


a) No Spiritual Gifts vol. 2, 183-184, ela diz que João Batista estava morto em Mat. 4:18-22; no Desejado ela corrige ao dizer que ele estava na prisão, segundo a Bíblia;

b) No Spiritual Gifts vol. 1, 58 ela diz que os pregos da cruz furaram osso e carne, no Desejado, ela corrige dizendo que os pregos furaram somente a carne de Jesus; 



Por outro lado, o livro Educação afirma que a Lua E AS ESTRELAS refletem a luz do Sol. (Ed. 14) e Ellen White não corrigiu essa discrepância astronômica; o Patriarcas e Profetas (PP 134) diz que Quedorlaomer tinha 4 aliados, Gênesis 14:1-9 diz que eram somente 3 aliados. 


Creio que a resposta a isso é que assim como a Bíblia, Ellen White foi dada para fins práticos (ME vol. 1, 19-20), e não como uma enciclopédia de conhecimento científico-teológico. 


Em resumo, três razões pelas quais Órion deve ser descartada: a) a ausência de Órion das descrições posteriores da visão no Grande Conflito; b) implausibilidade astronômica e lógica para tal evento segundo o conhecimento moderno de astronomia.
7. O que ocorre em Órion. Silva menciona alguns artigos que parecem defender a idéia de que há algo "inexplicável" na luminosidade de Órion. Por outro lado, astrônomos da NASA explicam que a luminosidade da nebulosa provem de três grandes estrelas do chamado Trapézio, o que é apoiado por outros astrônomos (Veja http://hubblesite.org/gallery/tours/tour-orion/ ; Lada, E. A.; et al. (1996). "Circumstellar Disks in the Trapezium Cluster". Bulletin of the American Astronomical Society 28: 1342; Poveda, Arcadio; et al. (2005). "Low-Mass Runaway Stars from the Orion Trapezium Cluster". Astrophysical Journal 627 (1): L61–L64). Além disso, Órion sendo uma "estufa" de estrelas, contêm mais de 1000 estrelas o que seria outra fonte de luminosidade natural. 


É interessante que um dos artigos citados por Silva, a saber, C. R. O’Dell, “The Orion Nebula: An Elephant for the Blind”, RevMexAA (serie de conferências), 10 (2001), descreve a luminosidade de Órion como sendo resultado das estrelas do Trapézio (p. 3). 


8. Dados astronômicos. Silva também acredita que é possível (ou necessário) que os anjos e Jesus viajem a 14.000.000 de vezes acima de velocidade da luz para justificar a interpretação de Órion. Meu artigo tomou uma linha diferente, argumentei que não é necessário que eles se limitem a percorrer tal distância, o que necessariamente os "limitaria" em termos de velocidade. Meu ponto foi, se o ponto de acesso ao céu depende de um ponto específico no universo, Órion, então temos que fatorar na equação distância e velocidade já que Órion e a Terra são dois celestes separados por 14 quatrilhões de kilômetros e a luz leva 1500 anos para percorrer a distância. 


Aqui novamente o ponto não é se os seres celestiais podem ou não alcançar tal velocidade para percorrer a distância incomensurável de Órion até a Terra, 14 quatrilhões de kilômetros. A pergunta é:Por que eles seriam limitados pela "velocidade"? Com certeza o movimento angélico no universo está fora das leis naturais, já que eles vivem em um nível elevado de existência. Os anjos precisariam viajar a 14 milhões de vezes acima da velocidade da luz se Órion é uma "necessidade". E outro detalhe: qualquer objeto que viaja acima da luz não pode ser visto, já que a luz da imagem do objeto estaria "atrasada". Assim, quando o cortejo que acompanha Jesus passa por Órion a 14 quatrilhões de quilômetros/hora, é impossível vê-los já que a luz está a somente 1 bilhão de km/hr.
Ao mesmo tempo, dizer que nada é impossível para Deus nos leva a perguntar então por que Deus estaria limitado a utilizar Órion como porta do céu? Ao mesmo tempo se essa porta é NECESSÁRIA, não faria também mais sentido que ela estivesse ou nas galáxias mais antigas do Universo (13 bilhões de anos-luz) já que o céu estava ali antes delas ou do nosso lado no nosso sistema solar para facilitar o acesso? Meu artigo argumenta que o céu está em outra dimensão, mas isso é assunto para outra conversa.


O tamanho de Órion apresenta tremendas dificuldades para que algo que ocorre ali seja visto a olho nu pelos habitantes da Terra. Esse ponto foi abordado no artigo. A área da nebulosa de Órion é quase idêntica à distânca de lá até aqui: 14 quatrilhões de km2 (1600 anos luz); caberiam aí aproximadamente 20 milhões de sistemas solares. Além disso, as imagens que vemos de Órion hoje são uma composição de várias imagens de telescópios, incluindo de raios infra-vermelhos etc. Em resumo, não é possível detectar, luminosidade inexplicável, nuvens negras ou sequer um "espaço aberto" em Órion a olho nu.


Silva não abordou os obstáculos desses dados científicos no seu texto e por isso, sua argumentação não esgota as dificuldades. 


9. A "atmosfera" de Órion. Silva cita artigos que parecem apoiar a idéia de que Órion possui "atmosfera" e que a menção de Ellen White da atmosfera que abriu e recuou-se na visão era em Órion. Note que o artigo citado no seu texto não apóia essa conclusão, já que o articulista meramente descreve a poeira cósmica existente na nebulosa e não compara Órion com as nuvens da atmosfera terrestre. 


Porém o contexto do Primeiros Escritos, p. 41 elucida a menção de atmosfera e nuvens. Como mencionado no meu artigo, a menção de "nuvens densas e atmosfera" foi uma tentativa de demonstrar que o fim ocorrerá "literalmente" na atmosfera terrestre e não de forma "mística" como queria o autor da revista milerita Day Star em 1847. Dúvidas quanto a isso surgiram na literatura milerita da época e Bates e Ellen White se uniram para combater o erro daí a menção de "nuvens e atmosfera" por Ellen White. Ellen White critica a conclusão do articulista do Day Star de que o "abalo das potestades so céu" se referia às nações da Europa (Veja Primeiros Escritos, 41) e depois descreve a literalidade do evento impactando a atmosfera terrestre. Não seria incoerente tentar provar que Jesus aparecerá literalmente na Terra valendo-se de movimentos na "atmosfera" de uma nebulosa longínqua cuja luz demora 1.500 anos para nos alcançar.


Silva não respondeu essa questão em seu texto e também não abordou esse pano de fundo histórico sobre a visão de 1848 o que teria elucidado o uso dos termos. Apesar da clareza das intenções de Ellen White no livro Primeiros Escritos p. 41, Silva conclui que essa "atmosfera" é em Órion. Creio que ele também não demonstrou como seria possível que algo que acontece a uma distância de 1.500 anos da Terra possa ser visto em tempo real.

10. O "espaço aberto" em Órion hoje. A leitura de Silva conclui que o espaço está aberto "hoje" já que Ellen White usa o verbo no presente. Porém, Ellen White está descrevendo claramente eventos que ocorrerão por ocasião da vinda de Cristo, ou seja, no futuro; Ellen White também usa verbos no passado: a voz de Deus "vinha" (passado came in inglês) através do espaço aberto. Com certeza esse passado não se refere a um momento passado quando se ouviu a voz de Deus e nem que não estamos ouvindo a voz de Deus "hoje" através desse espaço. 

Portanto o espaço aberto tem a ver com o que está acontecendo na visão, ou seja, "no futuro": durante a vinda de Cristo. A menção da Cidade Santa na passagem pode ser entendida de duas maneiras: 1) como um parêntese na descrição, valendo-se dos estudos de Bates de que a Nova Jerusalém está em Órion e descerá também pelo espaço aberto de onde Cristo e os anjos vêm, ou: 2) Ellen White se refere ao cortejo que acompanha Jesus como a "Cidade Santa". Creio que a segunda opção é a mais plausível, já que os eventos da visão tratam dos sinais da vinda de Cristo.

Um detalhe na descrição porém, creio que anula de uma vez por todas a possibilidade de Órion ser o lugar por onde Jesus desce: Ellen White interpreta que a voz de Deus vem do "espaço aberto" em Órion. Vejamos alguns fatos sobre essa possibilidade:

Se a luz de Órion demora 1500 anos para alcançar a Terra, o som da voz de Deus demoraria 1.000.000 de vez mais já que o som viaja a 340 m/s e a luz a 300.000 km/s, ou seja o som da voz de Deus saindo de Órion demoraria 1 bilhão e quinhentos milhões de anos para chegar à Terra. Na realidade, esses cálculos são interessantes mas irrelevantes, já que o som não se propaga no vácuo. Conclusão, a voz de Deus vindo por Órion jamais seria ouvida na Terra.

Ninguém precisa ser doutor em astronomia para compreender a implausibilidade de que algo que acontece em Órion possa impactar a Terra durante a vinda de Cristo.


11. Infalibilidade de EGW. Finalmente a implicação mais séria em querer manter uma interpretação implausível de que Órion é a porta do céu é a idéia de que Ellen White recebeu inspiração verbal, era inerrante e infalível. Note que Ellen White nunca pretendeu ser infalível ou inerrante e insistir nisso trará problemas sérios para o entendimento do Espírito de Profecia. Sobre as novas revelações que continuamente viriam à Igreja ela disse:

"Não devemos pensar, "Temos a verdade, entendemos os pilares principais da nossa fé, podemos descansar sobre esse conhecimento." A verdade é progressiva, e devemos andar na luz progressiva. (Conselhos a Editores p. 33)

"Não há desculpas para alguém tomar a posição de que não há mais luz a ser revelada e que todas as nossas exposições das Escrituras são inerrantes. O fato de que certas doutrinas têm sido mantidas como verdade por muitos anos pelo nosso povo, não é prova de que nossas idéias são infalíveis. O tempo não fará o erro verdade... Nenhuma doutrina verdadeira perderá alguma coisa pela investigação minuciosa. (Conselhos a Editores, 35).

Ellen White demonstrou esse princípio em sua vida, cabe a nós seguirmos o seu exemplo.
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Agradeço novamente ao meu amigo Pr. Rodrigo Silva e ao Advir a oportunidade do debate construtivo. Não tenho dúvidas de que ele trará benefício para a Igreja.

Um grande abraçø!

André Reisandre

www.AdventismoRelevante.com

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